23 de janeiro de 2009

O HOMEM DA ÁGUA



Num destes dias de calor infernal, estava na varanda de casa, observando o Cocó, ruminando sobre as efemérides da vida, quando o Pequeno João me trouxe à realidade:
- Pai, o homem da água!
Era o “entregador de água” do Mercadinho Chicão. Tão logo paguei o rapaz e ele saiu, o Pequeno João correu a pegar o álcool e uma flanela limpa para me ajudar a lavar o garrafão de água mineral, antes de colocá-lo no bebedouro.
Interessante como para as crianças, algumas tarefas quase insignificantes para nós, gente grande, são motivos de verdadeira festa. O prazer que o pequeno tinha em molhar o tecido com álcool e me entregar era algo de maravilhoso.
Isso me fez lembrar a alegria que eu tinha quando criança, de ver dobrar a esquina da saudosa Rua Felino Barroso, a carrocinha da água. Um enorme galão de madeira, pintado de verde com uma torneira na face da popa, instalado sobre um rígido sistema de rodas e molas, com latas de flandres presas à sua lateral por borrachas de pneu, puxada por uma burra.
Entráva-mos em casa a correr, anunciando o “homem da água”. Tudo para ter a alegria de ver a cozinheira da casa de meu pai, a Toinha, colocar a água das latas no enorme pote da cozinha e deste para a quartinha e para o filtro cerâmico. Só daí, para as garrafas da geladeira Clímax.
Essas coisas o meu garoto não verá. A tecnologia atual e a questão sanitária não permitem mais que a água chegue a nossas casas de forma tão insalubre. A água da cisterna do condomínio que consumimos para banho e cozimento em casa, por exemplo, passa por vários filtros e há nos flanelógrafos, frequentemente destacados exames feitos em laboratórios, comprovando a sua potabilidade.
Nas conversas com meu amigo Augusto e seus pares da Cagece, por várias vezes me foi assegurado que a água daquele órgão que abastece nossas caixas d’águas é de excelente qualidade e que se eu usasse, apenas como reforço um bom filtro de carvão, garantiria à minha família água pura toda vida, direto da torneira, sem ter que recorrer às solicitações de entrega dos mercadinhos.
Não quero, nem de longe, por em dúvida a qualidade desse serviço. Mas, meus amigos da Cagece me desculpem, assim como lembro com carinho da carrocinha da água, estou dando a meu filho a chance de se lembrar um dia, do homem da água, que creio não existir mais quando ele tiver cinqüenta anos.

3 comentários:

  1. Oi tio! Muito legal o texto! A Madu e a Silvinha também leram e gostaram muito. Apesar de não sermos da época da carrocinha d´agua, esperamos compreender o valor das sutilezas da vida. hehehe
    Beijos

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  2. A água da Cagece é uma das melhores do Brasil, sem dúvida, mas nada como um garrafão e um gelágua. Quanto à carrocinha dágua puxada por um burro, se eu visse uma aqui em Fortaleza não tenho dúvida que ia ter uma "ruma" de menino correndo atrás atazanando a pobre da burra.

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  3. Oi Tio!!
    Que texto Lindo!
    Já estamos morren do de saudades!
    Beijos

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