6 de julho de 2009

DE BOB DYLAN A AVIÕES DO FORRÓ

Bob Dylan foi chamado de ‘traidor’ pelos fãs mais ortodoxos do folk, porque teve a coragem de eletrificar o seu violão. Estamos na primeira metade da década de sessenta, quando, até então, a música ‘caipira’ americana só era tocada por violões acústicos.

A escolha de incorporar elementos do incipiente rock’n’roll , valeu-lhe a repulsa dos mais ortodoxos, mas impulsionou sua carreira em áreas menos ‘country’ americanas, na Europa e daí para boa parte do mundo. Hoje, o cantor é reconhecido mundialmente como referência de música de qualidade e ainda é porta voz do povo americano, principalmente aquele ‘mais pro oeste’ que ele quis retratar desde o início da carreira. Em outras palavras, ele universalizou-se sem perder as origens.

Fenômeno igual, ou seja a modernização musical, já havia ocorrido no jazz e no blues. A música acompanha a evolução tecnológica, incorpora o que lhe convém e se universaliza.

No Brasil, na década de setenta aconteceu mais ou menos a mesma coisa. O samba eletrificou-se nas mãos de Jorge Ben, Banda Black Rio, Antônio Adolfo, para não falar de outros. A música do morro ‘comprou’ elementos do rock e do soul, surgindo o Samba-Rock. Ainda temos o fenômeno Tim Maia que, se você reparar bem, misturou uma pitada bem boa de samba e MPB ao soul. Não é à toa que é tão bom. O maior representante, ou o mais conhecido, do Samba-Rock de hoje é Seu Jorge. Seu último trabalho é interessante demais.

Aqui do ladinho, em Pernambuco, o Mangue-beat. Suassuna me perdoe, mas a eletrificação da música tradicional nordestina e a colocação de elementos do pop, em momento nenhum, no meu entender comprometem a qualidade de sua música. Na cola do Chico Science, que viajou fora do combinado, tem uma pá de gente fazendo música com base nordestina e um pé no pop. Entre eles, eu prefiro o Lenine.

Sábado passado quem foi ao Parque do Cocó foi brindado com uma agradável surpresa. Uma banda de Samba-rock , ‘Grovital’, que abriu o show da Maria Rita. O som da banda botou a galera prá dançar. Foi mais de uma hora de puro divertimento.

Agora, chegou a vez dos ‘Aviões’. Me lembro de ouvir o forró eletrônico pela primeira vez nos anos noventa. Era uma febre de Mastruz com Leite e Forró Maior. De lá pra cá, no meu entender o inverso da história. Alencária tem uma péssima mania de vez por outra botar o seu bonde na contramão. O bonde do ‘forró-pop-love-romântico’ (sic) está tão na contramão que daqui a pouco vai descarrilhar, se Deus quiser. A qualidade da música que toca no rádio, principal veículo de divulgação, é de uma falta de qualidade mastodôntica. As letras não beiram o ridículo. São ridículas. Na maior parte só falam de futilidades ( Ih, choveu/O cabelo encolheu...), ou sexo pago (Dinheiro na mão/Calcinha no chão). Não que eu ache que seja proibido ter momentos de futilidade ou de sexo sem compromisso na vida. Mas, até prá isso é preciso ter charme. E isso, essas sub-bandas de música ruim definitivamente não têm.

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