13 de julho de 2009

JAIME LERNER : METRÔ NÃO É A ÚNICA SOLUÇÃO

Foto da linha azul do metrô em São Paulo em dia de pane de trem (Werther Santana/AE)

Trechos de um texto do arquiteto Jaime Lerner sobre a questão do carro e do metrô.

"Um dos grandes equívocos na discussão dos problemas das cidades no mundo inteiro é a polarização entre a opção pelo carro ou pelo metrô no enfrentamento dos desafios da mobilidade urbana.
Com o crescimento do número de carros nas ruas, alimenta-se o imaginário popular com a ideia de que a solução seria a ampliação da infraestrutura viária, como viadutos e vias expressas, e o consequente aumento de grandes estacionamentos - subterrâneos ou não, e a adoção de toda a parafernália que acompanha a opção pelo automóvel com as metodologias de engenharia de trânsito.
Para contrabalançar isso, vende-se a ideia de que só o metrô poderia resolver essa confusão fenomenal. E aí aparecem os 'vendedores' de sistemas enterrados a abastecer a mente dos prefeitos com essa solução(...)
Mas afinal, é bom o metrô? É ótimo! Contudo, não se pode esquecer que construir uma nova rede completa de metrô já não é mais possível para as cidades de hoje. Londres, Paris, Moscou, Nova York possuem redes extensas, mas que tiveram sua construção iniciada a 100, 120 anos atrás, quando os custos de se trabalhar no subsolo eram mais baratos.
Hoje, uma metrópole como São Paulo, por exemplo, tem 4 linhas mas 84% dos deslocamentos são em superfície.(...)
Na minha opinião, os sistemas em superfície têm a vantagem de, com as características corretas (tais como canaletas exclusivas, embarque em nível e pré-pago e frequência elevada que chamamos de BRT, Bus Rapid Transport), alcançar um desempenho similar ou maior que o metrô subterrâneo por um custo que é acessível a todas as cidades e com uma implantação muito mais rápida. Ainda, há que se considerar a utilização de veículos individuais associados aos demais elementos da rede pública de transporte, como é o caso das bicicletas (o Velib) em Paris. O que o grupo de 'vendedores' não te conta é a quantidade imensa de recursos necessários para implantar uma única linha subterrânea que, contando todos os estudos, pode levar 20, 30 anos para ser construída. Ainda, sua operação terá que ser subsidiada, e aí recursos que se destinariam à educação, saúde, atenção à criança irão para o brejo (...).
Curitiba transporta 2,3 milhões de passageiros/dia em seu sistema em superfície, mais ou menos o mesmo que o metrô de São Paulo, ou o metrô e o trem de subúrbio do Rio de Janeiro, juntos. (...)
Mas por que então alguns excelentes prefeitos embarcam nesse 'metrô furado', ou no furo para o metrô? Porque precisam anunciar ideias para pessoas que têm seu imaginário alimentado por idealizações. Seria o equivalente a te prometer a Angelina Jolie e te entregar o Clint Eastwood. E quem estimula isso: tecnocratas que contribuem para a deterioração dos sistemas de superfície pela má operação, visando apressar a "necessidade" de um metrô. Por outro lado, cerca de 83 cidades do mundo como Seul, Bogotá, Cidade do México, Los Angeles, algumas delas maiores que São Paulo, estão implantando o que eles chamam o BRT de Curitiba.
País subdesenvolvido é aquele que importa como última novidade o obsoleto.
Na quartinha, o texto na íntegra.

3 comentários:

  1. Excelente, mas que Sobral vai implementar o metrô primeiro que Fortaleza, isso vai.

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  2. caro paulão,

    isso me lembra o daqui de fortaleza. interminável, caríssimo, injustificável e brega até dizer chega.

    abçs

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  3. Acredito: nasceu atrasado (sem estigma; no tempo) e ignorante (burro mesmo), vai ser difícil ultrapassar os que estão na frente. Fosse somente o atraso, mas inteligente, aprenderia com os que estão à frente e até os ultrapassaria - exemplo da Austrália. A mentalidade atrasada e ignorante da esmagadora maioria de nossos governantes está aquém da visão de futuro e da proatividade. Resta-nos a aceitação, a pilhéria e o sarcasmo!
    Adorei a frase final da matéria!

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